NOTÍCIAS DIÁRIAS

Sem inspiração

08/01/2014 09:09
Chico Vigilante
CHICO VIGILANTE
Alguns colunistas de grandes jornais brasileiros, como Dora Kramer, deveriam ter a coragem de assumir publicamente que defendem interesses de grupos específicos no lugar de se fingirem de intelectuais

 

Os representantes da mídia comercial saem de férias e voltam com as mesmas velhas táticas: usando um vocabulário distante da compreensão da maioria, defendem nas entrelinhas os interesses das elites brasileiras.
 
Em outros artigos no 247 tenho criticado estes lobistas travestidos de jornalistas, blogueiros e articulistas que não se conformam com a presença do PT no poder por tantos anos. Tudo o que querem é encontrar razões, fatos e contradições que fundamentem críticas à nosso objetivo já efetivado de tirar grande parcela do povo brasileiro da miséria e fazer o país crescer como um todo.
 
Hoje fiquei pasmo ao ler artigo da sra Dora Kramer. Nos dois primeiros parágrafos ela disse que a presidente Dilma usa hoje a mesma tática utilizada pela ditadura que a torturou, que era a de considerar conspiradores com o objetivo de desestabilizar o governo todos aqueles que criticavam os militares no poder. Estapafúrdia comparação.
 
Nos próximos dois ela se superou e insinuou que o PT é um grupo de comando com traço autoritário, apesar de eleito dentro das legítimas regras da democracia, como ela própria chama a atenção. O Partido dos Trabalhadores é um dos poucos partidos políticos deste pais que discute internamente os seus e os rumos do país.
 
Adiante segue afirmando que para o PT  “os bons brasileiros são aqueles que concordam. Quem discorda está fora, não é patriota”. Tudo isso para justificar uma triunfal conclusão : “isso vindo de um partido que fez a vida sendo do contra recende a ideologia de resultados “.
 
Será que os leitores da senhora Kramer sabem o que significa ideologia de resultados ? porque a maioria da população não, mas com certeza, desconfia o que ela está tentando dizer. No mínimo, entendem que essa tal ideologia de resultados não é coisa boa não.
 
Na verdade, nada é tão complicado quanto pode parecer. O uso do termo ideologia pressupõe uma diferenciação entre duas correntes: os que acreditam que ideologia é um "conjunto qualquer de ideias sobre um determinado assunto" (concepção neutra, sinônima de ideário); e o que defendem ser ideologia o "uso de ferramentas simbólicas voltadas à criação e/ou à manutenção de relações de dominação" (concepção crítica).
 
Compreendo perfeitamente que a jornalista ao mesmo tempo que dá uma conotação negativa ao que denomina “ideologia de resultados” faz também uso do conceito, quando tentar convencer seus leitores que os governos petistas se utilizam de relações de dominação.
 
Para aqueles que adotam o termo ideologia segundo a concepção crítica, como parece ser o caso da sra Kramer, não faz sentido dizer: que um indivíduo ou grupo possui uma ideologia; que existem ideologias diferentes; que cada partido tem uma ideologia; que existe uma ideologia dos dominadores ( como a dos que ela defende ), etc.  
 
Ideologia, para este grupo de pessoas, não é algo disseminável como é uma ideia ou um conjunto de ideias; ideologia é algo voltado à criação/manutenção de relações de dominação por meio de quaisquer instrumentos simbólicos: seja uma frase, um texto, um artigo, uma notícia, uma reportagem, uma novela, um filme, uma peça publicitária ou um discurso.
 
Ao longo de seu artigo ela também criticou vários dos discursos da presidente Dilma, e sem que lhe ocorresse  nenhuma idéia mais brilhante, na dura vida de volta ao trabalho pós férias, a jornalista para encerrar me saiu com a seguinte pérola: eleição batendo à porta, se impõe de novo a lógica da batalha pela via da mistificação”.

Ao que tudo indica ela também pratica além de conhecer a fundo o significado das palavras que usa em relação aos governos petistas, assim como mistificação - ação ou efeito de enganar (alguém); fazer com que uma pessoa acredite numa mentira; farsa.
 
O que me alegra é que os lobistas da grande imprensa estão cada vez mais próximos de perder seus empregos e que jornais como o Estadão  - um jornal a venda e sem comprador - de fechar suas portas, diante do crescimento de veículos independentes e  das mídias sociais, onde cada brasileiro tem o direito e a capacidade de escrever o que realmente pensa sobre os destinos do país.
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A TRISTE JORNADA DO PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA(PIG)

07/01/2014 14:12

LEITURA DE JORNAIS

O Brazil na imprensa

 
 

Os principais jornais de circulação nacional formam na terça-feira (7/1) um mosaico interessante para quem ainda tenta encontrar sinais de objetividade na imprensa brasileira. A decretação da prisão do deputado petista João Paulo Cunha está em todas as primeiras páginas, assim como o rescaldo de controvérsia provocada pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter, ao criticar a organização da Copa do Mundo no Brasil, e um balanço sobre a crise no sistema penitenciário do Maranhão.

A divulgação de declarações feitas em agosto do ano passado pelo presidente da Fifa, em conversa particular com o técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, seguida do contraponto feito pela presidente da República, mostra como os jornais estão sempre atentos à chance de veicular comentários desfavoráveis ao Brasil – mesmo que tenham sido produzidos em outra circunstância, como o contexto das manifestações de protesto que ocorriam naquela ocasião. Além disso, a imprensa coloca em níveis iguais o dirigente de uma entidade privada de futebol e a chefe do governo, aplainando o debate e jogando com aspectos depreciativos em relação ao Brasil.

O caso do deputado federal é apenas mais um desdobramento da Ação Penal 470, cujos detalhes são costumeiramente destacados pelos jornais. Já o acompanhamento da crise nos presídios do Maranhão deveria merecer um esforço jornalístico maior. Afinal, qual seria o elemento essencial para explicar a degradação da vida naquele estado, enquanto todo o resto do Brasil – principalmente as regiões Nordeste e Norte –, passa por um período inédito de desenvolvimento?

A imprensa aponta para o sobrenome Sarney, que domina a política no estado desde 1966, mas está devendo uma reportagem de fundo sobre por que isso acontece no Maranhão. O estado detém os piores índices de desenvolvimento humano entre as regiões brasileiras, concentra o maior número de adultos analfabetos, apresenta um dos maiores desníveis de renda e acaba de ganhar o topo das estatísticas de violência. A crise nos presídios, com mais de 60 assassinados no ano passado, é a joia da coroa, produzindo imagens chocantes, algumas das quais a Folha de S. Paulo publica na terça-feira (7/1), com destaque na primeira página.

Dois olhares diferentes

No noticiário econômico, o leitor mais atento vai observar que a expectativa da nota a ser dada ao Brasil pelas agências de avaliação de riscos foi reduzida, caindo do alto da primeira página para um registro abaixo da dobra dos jornais: é que a agência Moody’s, segundo o Estado de S.Paulo, decidiu manter a economia brasileira na mesma classificação anterior, frustrando as profecias negativas da imprensa. Se a agência tivesse anunciado a piora do risco Brasil, seria manchete?

Na Folha de S.Paulo, reportagem de quase uma página inteira (ver aqui) registra que o otimismo das empresas brasileiras sofreu uma grande queda em 2013, de acordo com pesquisa da consultoria norte-americana Grant Thornton. Um articulista da própria Folha nota que a situação econômica é vista no Brasil por duas lentes opostas: no chamado andar de cima, os ricos estão pessimistas, mas no andar de baixo os pobres e remediados parecem bem contentes.

Como somente as pessoas de renda mais alta leem jornais como a Folha, o Estado e o Globo, um raciocínio apressado pode induzir o observador a concluir que a visão negativa do Brasil é estimulada pela imprensa.

Mas o que fazer, então, com relação ao noticiário do principal jornal de economia do Brasil, Valor Econômico, que não costuma ser tão catastrofista quanto a chamada imprensa genérica?

Na segunda-feira (6/1), por exemplo, a manchete do Valor anunciava o crescimento da porcentagem de investidores estrangeiros na Bolsa de Valores do Brasil, que já respondem por metade do volume de transações.

Também na contramão do noticiário geral da imprensa brasileira, a revista semanal Bloomberg Newsweek chama atenção para o fato de que o Brasil, nos anos recentes, priorizou a mobilidade social. O texto da publicação americana (ver aqui, em inglês) compara o empresário Eike Batista com a dona de casa Luzia Souza, moradora em Teresina, Piauí, que acaba de conquistar sua casa própria. Segundo a Newsweek, Luzia Souza é parte dos 22 milhões de brasileiros que saíram da pobreza extrema durante o atual governo. A revista estrangeira destaca a redução da desigualdade social como resultado das escolhas governamentais.

A imprensa brasileira tende a enxergar os números mais sombrios da economia.

 

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E NA FOIA?????????????????????????????

07/01/2014 12:22

Motim na Folha? Rossi também critica “nervosinhos”

7 de janeiro de 2014 | 08:40 Autor: Miguel do Rosário

clovis-rossi-blog

Se vale alguma coisa viver nossa época, é assistir a esses “motins” na grande imprensa. São raros, muito raros, e protagonizados exclusivamente por jornalistas veteranos, cujo longo tempo de permanência no jornal lhes dá autoconfiança para divergirem das linhas editoriais determinadas pelos proprietários e seus capatazes internos.

Na verdade, acontece apenas na Folha. Globo, Estadão e Abril, os outros três do grupo dos quatro cavaleiros do apocalipse, mantêm um cada vez mais rígido controle sobre eventuais dissidências internas. Quem fizesse, no Globo, algo parecido ao que faz Janio de Freitas e agora Clovis Rossi, fez hoje na Folha, seria sumariamente demitido no dia seguinte.

Aliás, por isso eu costumo dizer a meus amigos que, hoje em dia no Brasil, jornalistas são os profissionais com menos direito à liberdade de expressão entre todos os trabalhadores.

Rossi denuncia o quanto é ridículo que nossos endinheirados fiquem “nervosinhos”, pessimistas e indignados enquanto enchem a pança. Os pobres, diz Rossi, é que deveriam estar tristes com o que o governo gasta em juros.

Eu acrescentaria o seguinte: já que tem gente querendo protestar durante a Copa, poderiam pedir a volta da CPMF. José Gomes Temporão, ministro da Saúde no governo Lula, em artigo na última edição da Carta Capital, lembra que a CPMF (o imposto sobre o cheque) corresponderia a R$ 50 bilhões por ano. Ou seja, nos sete anos em que ela deixou de existir, e incluindo 2014, foram tirados R$ 350 bilhões da saúde. Esse valor é quantas vezes superior aos gastos com estádios da Copa (sendo que os estádios foram feitos, em sua maioria, com dinheiro privado, embora com financiamentos do BNDES)? Quantas pessoas poderiam ser tratadas, quantas vidas seriam salvas, se a CPMF não fosse derrubada após uma campanha midiática liderada, como sempre, pelo Globo, pela direita, e com apoio inclusive de setores irresponsáveis da ultra-esquerda?

Outra coisa que eu agregaria ao texto de Clovis Rossi é que os “nervosinhos” estão quase todos aqui no Brasil, porque os investidores estrangeiros continuam acreditando no Brasil e tanto os investimentos produtivos (investimento estrangeiro direto), quanto os investimentos na bolsa, tem registrado um aumento constante.

Por uma ironia triste atual da nossa história, só quem não acredita no Brasil são os ricaços do Brasil. Talvez porque lêem demais nossa mídia urubuzeira. Investidores estrangeiros e os pobres do Brasil, imunes à mídia brasileira, continuam acreditando no país: os primeiros apostando alguns bilhões, na construção de novas fábricas por aqui; outros trabalhando duro, e votando na esquerda para presidente.

*

Quem deveria ficar “nervosinho”

Por Clovis Rossi, na Folha.

Há algo de profundamente errado em um país, um certo Brasil, em que os ricos choram (e de barriga cheia), ao passo que os pobres parecem relativamente felizes. Na ponta dos mais ricos, refiro-me à pesquisa da consultoria Grant Thornton que “Mercado” publica hoje e que mostra um absurdo recorde de pessimismo entre os executivos brasileiros.

Na ponta dos pobres, valem as sucessivas pesquisas que mostram satisfação majoritária com o governo Dilma Rousseff, a ponto de 11 de cada 10 analistas apostarem, hoje por hoje, na reeleição da presidente. Como ninguém vota em governo que o faz infeliz, só se pode concluir que uma fatia majoritária dos brasileiros, especialmente os pobres, está rindo.

Que a economia brasileira tem problemas, ricos, pobres e remediados estão cansados de saber. Problemas conjunturais (o crescimento medíocre dos anos Dilma ou a forte queda do saldo comercial, por exemplo). Problemas estruturais que se arrastam há tantos séculos que nem é preciso relacioná-los aqui. Daí, no entanto, a um pessimismo recorde vai um abismo.

Um país em que há pleno emprego e crescimento da renda não pode ser campeão de pessimismo nem pode ficar em 32º lugar, entre 45, no campeonato mundial de pessimismo. É grotesco.

Grotesca igualmente é uma das aparentes razões para o surto de pessimismo que vem grassando desde meados do ano passado. Seria a diminuição do superavit primário, ou seja, do que sobra de dinheiro nos cofres públicos depois de descontadas as despesas e tem servido exclusivamente para o pagamento dos juros da dívida. Foi por isso que o ministro Guido Mantega apressou-se a divulgar os dados de 2013, para acalmar os “nervosinhos”.

Quem deveria ficar nervoso, mas muito nervoso, não apenas “nervosinho”, é exatamente quem está contente com o governo.

Basta fazer a comparação: os portadores de títulos da dívida pública (serão quantos? Um milhão de famílias? Cinco milhões no máximo?) receberam do governo, no ano passado, R$ 75 bilhões. É exatamente quatro vezes mais do que os R$ 18,5 bilhões pagos às 14 milhões de famílias (ou 50 milhões de pessoas) que recebem o Bolsa Família.

Quatro vezes mais recursos públicos para quem tem dinheiro para investir em papéis do governo do que para quem não tem renda. Seria um escândalo se os pobres tivessem voz. Mas quem a tem são os rentistas que ficam reclamando da redução do que recebem, como se houvesse de fato a mais remota hipótese de que o governo deixe de honrar sua dívida. Fazem um baita ruído com os truques contábeis que permitiram o superavit, mas não dizem que, com truque ou sem truque, a dívida líquida diminuiu este ano, de 35,16% do PIB em janeiro para 33,9% em novembro, última medição disponível.

Ou, posto de outra forma: o governo, supostamente irresponsável, gasta menos do que arrecada e ainda pinga 1,3% de tudo o que o país produz de bens e serviços na conta dos mais ricos e apenas 0,4% na dos pobres entre os pobres. E os ricos ainda choram.

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NOSSA!!!!!!!!!!!!!será que os médicos brasileiros leram essa notícia ? Vão querer mandar os médicos cubanos embora KKKKKKKKKKKKKKKKK

03/01/2014 18:43

Cuba: uma das mais baixas taxas de mortalidade infantil no mundo

cubaVirou o ano, época tradicional de balanços, e  Cuba repete os recordes que vem batendo ano a ano e há muito tempo, quanto aos índices de mortalidade infantil. A Ilha encerrou o ano de 2013 com a menor taxa de mortalidade infantil de sua história, e uma das mais baixas entre todos paises do mundo. Assim, a nação caribenha se mantém como um dos melhores países do mundo neste índice, à frente, por exemplo, do Brasil e dos Estados Unidos.

Pelo balanço divulgado pelo Ministério de Saúde Pública do país, Cuba terminou 2013 com a taxa de mortalidade infantil de 4,2 por cada mil nascidos vivos. O jornal Granma destacou nesta 5ª  feira (ontem) que o resultado coloca a ilha “entre as primeiras nações do mundo” neste quesito.

De acordo com a ONU, a média mundial de mortalidade infantil no ano passado era de 48 para cada mil nascidos. No Brasil, em 2012, esse índice era de 12,9. A dos EUA, por sua vez, era de 7 mortes para cada mil nascimentos.   A 1ª vez que os cubanos registraram taxa inferior a 5, foi 2008, com 4,7. Desde então, os índices foram de 4,8 em 2008; de 4,5 em 2010; de 4,9 em 2011; e de 4,6 em 2012.

Segundo os números oficiais de Cuba, oito das 15 províncias do país atingiram indicadores ainda menores que a taxa nacional de 4,2, em 2013. Neste ano, foram registrados 125.830 nascimentos, 156 a mais que no ano anterior. Além do baixo índice de mortalidade infantil, Cuba também registra bons níveis educacionais.

Registro: são de Cuba 81% dos cerca de 4 mil médicos que chegaram ao Brasil no final do ano passado para trabalhar no Mais Médicos, programa lançado pelo governo Dilma Rousseff para dotar as cidades carentes e periferias das grandes metrópoles de atendimento médico.

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Reinaldo faz novo apelo por doações privadas

03/01/2014 10:13

 

247 - O blogueiro neoconservador Reinaldo Azevedo continua em campanha pelas doações privadas de campanha, que podem ser extintas caso o Supremo Tribunal Federal confirme a Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pela Ordem dos Advogados do Brasil – até agora, o financiamento público vai vencendo por quatro votos a zero. 

Segundo Reinaldo, sem as doações legais, a política será dominada pelo caixa dois. "O ano começa com o STF prestes a jogar o sistema político na clandestinidade. Quatro ministros já acolheram a Ação Direta de Inconstitucionalidade que quer proibir a doação de empresas a campanhas eleitorais. Se acontecer, as contribuições hoje ilegais assim continuarão. E boa parte das legais migrará para o crime", diz ele, na coluna "MSL - O Movimento dos Sem-Lei" (leia aqui).

No texto, ele também acusa o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, de agir fora da lei. Em contraposição ao grito de Reinaldo, leia aqui o artigo de Marcus Vinícius Furtado, presidente da OAB, contra as doações privadas de campanha.

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Mujica mostrou que um governante ideal não é uma utopia completa

03/01/2014 08:52

Mujica mostrou que um governante ideal não é uma utopia completa


Postado em 31 Dec 2013
Mujica

Mujica

 

O presidente uruguaio, Pepe Mujica, mostrou, entre outras coisas, que um governante ideal não precisa ser, necessariamente, uma utopia completa.  Fez isso de maneira simples, com reformas corajosas e, sobretudo, seu exemplo.

Mora numa chácara a 10 quilômetros de Montevideu com a mulher, a senadora Lucía Topolansky, e sua velha cadela. “Minha maneira de viver é consequência da evolução da minha vida. Lutei até onde é possível pela igualdade e equidade dos homens”, diz ele.

A casa tem paredes descascadas e tetos de zinco verde. Galinhas ciscam o terreno debaixo das roupas no varal. Ele tem o mesmo patrimônio de 2010, o que inclui um Fusca 87. Doa 90% de seu salário de US$ 12 500 a programas sociais. Chamou de “velho careta” um dirigente da ONU que xingou seu país de “pirata” por causa da legalização da maconha. Recentemente foi à posse de um ministro calçando sandálias.

Por causa do que representa e do que faz, Mujica ganhou um imenso respeito e admiração. Surgiram também mais inimigos do que já tinha (“esse velho comunista maconheiro vai ser desmascarado”) e, principalmente, anões por comparação.

Hoje o presidente do Senado, Renan Calheiros, escreveu um artigo sobre o “programa de racionalização interna”. Diz ele que houve uma economia de R$ 265 milhões.

Lista seus feitos: “Foram eliminados o décimo quarto e décimo quinto salários dos parlamentares. Foram extintos 630 funções comissionadas (30% do total). Implementamos a jornada corrida de sete horas, evitando novas contratações. E fundimos estruturas administrativas redundantes”.

“Após as manifestações populares no meio do ano, aprovamos mais de 40 propostas em menos de 20 dias, desenferrujando as engrenagens sabidamente burocráticas do processo legislativo. Algumas ainda tramitam na Câmara dos Deputados. O crime de corrupção foi agravado e se tornou hediondo”.

Além da numeralha de difícil comprovação e do enrolation, existe aí um problema básico de falta de noção do papel de um líder como ele. Esse é o Renan Calheiros que acabou de devolver aos cofres públicos  R$ 27 390,25 por ter pegado um voo da FAB para fazer um implante de cabelo no Recife. No registro da FAB, consta que ele utilizou a aeronave “a serviço”. Era mentira.

Renan só devolveu a quantia porque virou notícia. Em junho,  já fora pilhado indo à Bahia de FAB para o casamento da filha do senador Eduardo Braga (PMDB-AM). Em outubro, o Senado suspendeu uma licitação para a compra de comida e produtos de limpeza para sua casa. Previa-se um gasto de R$ 98 mil por seis meses. Dez quilos de carne por dia. Renan mora com a mulher e dois filhos.

É surreal, no mínimo, que o político que anuncia “cortes de gastos”  seja o mesmo que usa dinheiro público como se fosse dele — e ainda falando em “corrupção”. Não aprendeu nada com as manifestações. Não aprendeu nada com o vizinho ao sul. É como se o Uruguai ficasse num continente distante da Oceania, um lugar com costumes exóticos e chefes ruins da cabeça como aquele tiozinho barrigudo e de bigode.

Os anões de Mujica ainda vão dar muito trabalho, especialmente para si mesmos.

 

Renan

Renan

Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

 

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De Pelé a Joaquim Barbosa, é sempre a mesma história

03/01/2014 08:50

De Pelé a Joaquim Barbosa, é sempre a mesma história



Postado em 01 Jan 2014
Pelé e Xuxa, no passado

Pelé e Xuxa, no passado

Não é um assunto fácil de tratar.

Mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de enfrentá-lo.

Começo, então, com uma digressão.

Uma das coisas notáveis que o ativista negro Malcom X fez pelo seu povo foi, em suas pregações, elevar-lhe a auto-estima.

Malcom X, com seu poder retórico extraordinário, dizia aos que o ouviam que deviam se orgulhar de sua aparência.

Os lábios grossos de vocês são lindos, bem como o cabelo crespo, bem como as narinas dilatadas – bem como, sobretudo, a cor de sua pele.

Os negros americanos tinham sido habituados a se envergonhar de sua aparência, e a buscar tudo que fosse possível para aproximá-la da dos brancos.

O próprio Malcom X, na juventude, alisou os cabelos.

Não foi por vaidade que um dos seguidores de Malcom X, Muhammad Ali, dizia que era o homem mais bonito do mundo. Ali estava na verdade dizendo aos negros que eles eram bonitos.

Ali casou algumas vezes, sempre com negras. Era mais uma maneira de sublinhar a beleza dos negros. Se Ali, no apogeu, tivesse casado com uma loira a mensagem não poderia ser pior.

JB e namorada, no presente

JB e namorada, no presente

Pelé, no Brasil, teve uma atitude bem diferente – e não apenas ele. Era como se na ascensão dos negros no Brasil estivesse incluída a mulher branca.

Falta de consciência? Alienação? Deslumbramento? Compensação? Alpinismo social? A resposta a esse fenômeno é, provavelmente, uma mistura de todos estes fatores.

Pelé casou com uma branca, Rose, há meio século. Depois, passou para uma Xuxa adolescente. É uma bênção para as negras brasileiras que seu orgulho nunca tenha estado na dependência de estímulos de celebridades como Pelé.

Quanto mudou o cenário nestes cinquenta anos fica claro quando se olha a fotografia da namorada de Joaquim Barbosa.

Não mudou nada.

Quando, algum tempo atrás, falaram que JB fora fotografado em Trancoso numa pizzaria com uma namorada, imediatamente pensei:  branca e com idade para ser sua filha.

Ao ver a foto, ali estava ela, exatamente como eu antecipara para mim mesmo.

Não sou tão inteligente assim. Mas observo as coisas.

Seria esperar demais que JB, por tudo que já mostrou, agisse diferentemente. Que estivesse mais para Ali do que para Pelé.

Os traços de personalidade já estavam claros. Numa entrevista à Veja, ele se gabou dos ternos de marca estrangeira que estão em seu guarda-roupa. Não é uma coisa pequena senão por ser grande na definição de caráter.

A partir desse tipo de coisa, você pode montar os dados básicos do perfil  da pessoa. Ou alguém imagina, para ficar num personagem dos nossos dias, um Pepe Mujica falando de grifes a repórteres?

De Pelé a JB, o Brasil sob certos aspectos marchou para o mesmo, mesmíssimo lugar.

Racismo não faltou, neste tempo todo. Faltou foi gente do calibre de Malcom X e de Muhammad Ali.

Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

 

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Em defesa da Constituição

03/01/2014 08:40
Marcus Vinícius  Furtado
MARCUS VINÍCIUS FURTADO
Com o fim das doações de empresas, o dinheiro deixará de ser o protagonista das eleições brasileiras

 

As eleições constituem o momento no qual pobres e ricos, empresários e trabalhadores, homens e mulheres, negros e brancos, todos temos que possuir direito à igual participação. Foi o que disse o advogado e libertador Nelson Mandela (1918-2013), já em 1944, na Liga Juvenil do Congresso Nacional Africano, quando lançou o manifesto Um Homem, Um Voto.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) luta por uma reforma política que seja capaz de equilibrar o pleito, mantendo na disputa aqueles que tenham ideias e propostas, e não apenas o poder econômico.

A OAB defende, principialmente, o princípio básico da igualdade de direitos políticos previsto na Constituição Federal brasileira.

Foi diante dessa prerrogativa que a OAB federal entrou, em 2011, com uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) contra a doação de empresas a partidos políticos e candidatos. A ADI 4.650 começou a ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal neste mês.

Quatro ministros já votaram a favor da ação, reiterando que pessoas jurídicas não são cidadãos e por isso não possuem a legítima pretensão de participarem do processo político-eleitoral. O julgamento foi interrompido e ainda não foi estipulada data para a retomada.

O procurador""geral da República também concluiu pela inconstitucionalidade do financiamento de empresas nas eleições.

O investimento empresarial em campanhas eleitorais é inconstitucional por cinco fundamentos autônomos. A saber: as empresas não se enquadram no conceito de povo; a legislação que regula o financiamento é discriminatória por privilegiar quem possui mais renda; a proteção deficiente da legitimidade das eleições dificulta o controle das doações ilegais e do abuso de poder; a escolha constitucional define o partido político como a pessoa jurídica de direito privado apta a participar do processo eleitoral; e, por fim, permite que a renda influencie o processo eleitoral, ferindo a igualdade política entre os cidadãos, candidatos e partidos.

O que move a OAB é a Constituição. De acordo com ela, o Supremo Tribunal Federal tem a função de guardião da ordem jurídica. Ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil foi atribuída a função de voz constitucional da sociedade civil brasileira. A OAB é a classe protetora dos preceitos garantidos na Constituição.

O Brasil tem uma das campanhas eleitorais mais caras do mundo, consumindo cerca de 1% do PIB. Para se eleger no país, um deputado federal precisa arrecadar R$ 1 milhão, em média. E um senador precisa de R$ 4 milhões. Sendo, atualmente, 97% dos recursos fruto de doação de empresas. Nesse cenário, um cidadão sem recursos financeiros tem poucas chances de se eleger.

O problema se agrava: apenas 0,5% das empresas brasileiras concentram as doações eleitorais. São poucos os doadores e estes fazem contribuições expressivas, conseguindo manter relações próximas com os candidatos que patrocinam.

A OAB também luta pela criminalização do chamado caixa dois de campanha, instituindo penas que vão de dois a oito anos de prisão aos condenados. A iniciativa faz parte do texto do projeto de lei de reforma política Eleições Limpas, liderado pela Ordem, juntamente com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e o Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral.

Com o fim das doações de empresas, o volume de dinheiro à disposição de cada partido ou candidato será consideravelmente menor, o que tornará mais visível o uso de recursos ilegais. Dessa maneira serão realizadas campanhas mais modestas com ênfase no conteúdo. O dinheiro deixará de ser o protagonista das eleições brasileiras.

O único partido da Ordem dos Advogados do Brasil é a Constituição da República e a sua única ideologia é o Estado democrático de Direito.

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Joaquim Barbosa, o juiz sem caráter, samba no Rio

03/01/2014 08:36

Joaquim Barbosa, o juiz sem caráter, samba no Rio

Enviado por Miguel do Rosário on 31/12/2013 – 1:50 pm 434 comentários

Num dos últimos dias úteis de dezembro, Joaquim Barbosa esteve num samba no Rio de Janeiro. Pela primeira vez foi também vaiado. O Globo noticiou que se ouviram “algumas vaias”, então por aí já se pode concluir que foram muitas vaias. É triste constatar que nossas elites e setores de classe média, supostamente esclarecidos, mais uma vez tentam recuperar poder político através de soluções não-democráticas. Antes, as fardas. Agora, as togas.

A imagem de Barbosa sambando, enquanto nega o direito dos réus da Ação Penal 470 de cumprir sua pena em regime semi-aberto, mantendo-os ilegalmente em regime fechado, a imagem de Barbosa sambando e rindo com atores da Rede Globo, enquanto continua aterrorizando a família de um homem doente como José Genoíno, a imagem de Barbosa me lembra um comentário de Cesare Beccaria, o pensador que revolucionou a teoria penal moderna, ao deixar para trás o espírito de vingança que caracterizava o castigo aos condenados na idade média.

Beccaria diz:

“Que contraste não é mais cruel do que a indolência de um juíz e as angústias de um réu; e das comodidades e prazeres de um magistrado, de um lado, e as lágrimas e desolação de um prisioneiro?”

No caso, a situação é ainda pior do que a imaginada por Beccaria, porque o prisioneiro José Dirceu foi condenado sem provas. Dirceu também foi encarcerado ilegalmente, visto que o certo seria esperar em liberdade o julgamento dos últimos recursos, em 2014; sempre foi assim, e assim esperavam os advogados dos réus.

E agora Dirceu está preso ilegalmente em regime fechado, quando sua setença determina o regime semi-aberto.

E passa por tudo isso sendo linchado pela mídia, que tem a incrível cara-de-pau de falar em “privilégios”.

Dirceu, o homem que elegeu Lula e ajudou a tirar dezenas de milhões de pessoas da miséria, que arriscou a sua vida pela democracia e pelos pobres, está numa pequena cela com cinco pessoas. Sem ter cometido nenhum crime. Condenado num processo surreal, onde a mídia exerceu a função protagonista de condenar os réus, patrocinando uma publicidade terrivelmente opressiva, na qual explorou todos os preconceitos e traumas populares em relação à classe política.

Enquanto isso, a família Marinho, proprietários das Organizações Globo, que ajudou a planejar o golpe de 64, que recebeu dinheiro sujo dos EUA para dar o golpe e sustentar o regime militar, que nunca fez nada pelos pobres (ao contrário, ainda hoje apoia sempre os candidatos dos ricos), continua no topo do mundo, patrocinando festas e comprando juízes.

Até quando, meu Deus?

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Joaquim Barbosa, o juiz sem caráter, samba no Rio

Enviado por Miguel do Rosário on 31/12/2013 – 1:50 pm 434 comentários

Num dos últimos dias úteis de dezembro, Joaquim Barbosa esteve num samba no Rio de Janeiro. Pela primeira vez foi também vaiado. O Globo noticiou que se ouviram “algumas vaias”, então por aí já se pode concluir que foram muitas vaias. É triste constatar que nossas elites e setores de classe média, supostamente esclarecidos, mais uma vez tentam recuperar poder político através de soluções não-democráticas. Antes, as fardas. Agora, as togas.

A imagem de Barbosa sambando, enquanto nega o direito dos réus da Ação Penal 470 de cumprir sua pena em regime semi-aberto, mantendo-os ilegalmente em regime fechado, a imagem de Barbosa sambando e rindo com atores da Rede Globo, enquanto continua aterrorizando a família de um homem doente como José Genoíno, a imagem de Barbosa me lembra um comentário de Cesare Beccaria, o pensador que revolucionou a teoria penal moderna, ao deixar para trás o espírito de vingança que caracterizava o castigo aos condenados na idade média.

Beccaria diz:

“Que contraste não é mais cruel do que a indolência de um juíz e as angústias de um réu; e das comodidades e prazeres de um magistrado, de um lado, e as lágrimas e desolação de um prisioneiro?”

No caso, a situação é ainda pior do que a imaginada por Beccaria, porque o prisioneiro José Dirceu foi condenado sem provas. Dirceu também foi encarcerado ilegalmente, visto que o certo seria esperar em liberdade o julgamento dos últimos recursos, em 2014; sempre foi assim, e assim esperavam os advogados dos réus.

E agora Dirceu está preso ilegalmente em regime fechado, quando sua setença determina o regime semi-aberto.

E passa por tudo isso sendo linchado pela mídia, que tem a incrível cara-de-pau de falar em “privilégios”.

Dirceu, o homem que elegeu Lula e ajudou a tirar dezenas de milhões de pessoas da miséria, que arriscou a sua vida pela democracia e pelos pobres, está numa pequena cela com cinco pessoas. Sem ter cometido nenhum crime. Condenado num processo surreal, onde a mídia exerceu a função protagonista de condenar os réus, patrocinando uma publicidade terrivelmente opressiva, na qual explorou todos os preconceitos e traumas populares em relação à classe política.

Enquanto isso, a família Marinho, proprietários das Organizações Globo, que ajudou a planejar o golpe de 64, que recebeu dinheiro sujo dos EUA para dar o golpe e sustentar o regime militar, que nunca fez nada pelos pobres (ao contrário, ainda hoje apoia sempre os candidatos dos ricos), continua no topo do mundo, patrocinando festas e comprando juízes.

Até quando, meu Deus?

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Pochmann: Estamos assistindo ao fim da imprensa como a conhecemo

27/12/2013 19:13
 

 

“A sociedade está aprendendo a identificar o potencial da rede, que parece ser enorme”

Por Marcelo Hailer

Marcio Pochmann, economista e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudo Sindicais e de Economia do Trabalho na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), recebeu a reportagem da revista Fórum para conversar sobre o primeiro ano de sua gestão à frente da Fundação Perseu Abramo (FPA). Ele também falou sobre a cobertura política da imprensa e o papel das redes no ativismo.

Segundo Pochmann, a imprensa clássica não dialoga com a geração atual, mas apenas com “seus militantes”. O economista fez uma análise das manifestações de junho e afirma que não se pode fazer uma leitura dos atos tendo como referencial as organizações sociais do século XX. Confira a entrevista abaixo:

Fórum – O que você destacaria deste primeiro ano de sua gestão frente a Fundação Perseu Abramo?

Marcio Pochmann – A Fundação Perseu Abramo tem 17 anos de existência e tem reproduzido a evolução do PT ao longo desse período. 2013, de certa maneira, apresentou algumas conexões mais fortes em relação aos desafios que o partido vem vivendo e nós organizamos a Fundação para responder a três desafios que são centrais na perspectiva do Partido dos Trabalhadores.

Fórum – E quais são esses desafios?

Pochmann – O primeiro desafio foi buscar responder a questão a respeito do projeto petista de governo. O PT é governo em mais de 600 prefeituras, em vários estados, já é governo federal há mais de dez anos e, portanto, tem uma série de carências em relação ao próprio monitoramento das suas ações. Ao mesmo tempo, tem uma necessidade enorme de formação de quadros, de gestores, justamente para viabilizar o projeto petista de transformação da sociedade. Essa reconstrução do projeto em termos de ênfase, de método, de atuação é um dos aspectos que nos fez organizar a Fundação para responder a isso.

O segundo desafio que o PT enfrenta é em relação ao seu projeto para o país e, em última análise, para o mundo. O partido político, do ponto de vista da esquerda, tem essa visão mais ampla em relação ao mundo no que diz respeito à transformação da sociedade. E nesse aspecto a Fundação reuniu cerca de 400 estudiosos, professores, intelectuais de maneira geral, trabalhando em torno de 20 temas que, para nós, são definitivos do ponto de vista de um diálogo sobre o futuro do Brasil.

Fórum – O que estes estudos revelaram até o momento?

Pochmann – Há uma configuração de um novo federalismo no Brasil, um federalismo que não mais depende, na perspectiva do passado, de haver uma “locomotiva São Paulo”, com os demais Estados sendo vagões. Os estudos estão mostrando que temos um Brasil reconfigurado, que a dinâmica está mudando, que hoje nós temos novas elites, há uma reestruturação da sociedade. E como é que o partido está conectado com as grandes mudanças que tivemos na estrutura social? Somos um país que está envelhecendo, ou seja, uma crescente participação de pessoas com mais idade. Tivemos uma mobilidade social enorme no Brasil, fruto da geração de mais empregos, que permitiram à base da pirâmide social se recolocar no mercado de trabalho, mas grande parte dessas pessoas não foram para os sindicatos.Da mesma forma, tivemos mais de 1,5 milhão de jovens que ascenderam à universidade por intermédio do ProUni, mas não se envolveram com as instituições que representam os estudantes; tivemos quase 1,3 milhão de famílias que ascenderam à casa própria a partir do programa Minha Casa, Minha Vida, mas essas pessoas não se engajaram nas associações de bairro e de moradores.

Então, a nossa preocupação é conhecer melhor essa estrutura social para entender os seus desejos, os seus anseios e que medidas o partido precisa desenvolver. Fizemos uma série de debates e pesquisas sobre classes, drogas, reforma política, sobre a mídia. Agora, vamos fazer um debate sobre Estado Laico, sobre a questão das religiões, são vários temas quase que pontuais, mas com o objetivo de entender como conectar esse segmento com a política.

Fórum – Há uma tese de que estes jovens que ascenderam à universidade, as famílias que passaram a ter casa própria, são grupos não foram para os espaços políticos por que os partidos de esquerda esqueceram da sua base. Você concorda?
Pochmann – Temos duas hipóteses para explicar, pelo menos.Uma que é a crise da direção. Ou seja, a direção das instituições não está conectada com estes segmentos que estão ascendendo. A outra é que as instituições que nós não são contemporâneas a esses novos segmentos. Se é um problema de crise de direção, é mais fácil de mudar. E, até nesse sentido, o PT fez um grande debate neste semestre que envolveu meio milhão de participantes e também uma oxigenação na sua direção. Ele está contemporâneo a essa ascensão.

Agora, se de fato for um problema das instituições, aí a questão é muito mais grave. Particularmente, acredito que, de certa maneira, esses novos segmentos que ascenderam representam um fenômeno que ocorreu à margem das instituições que temos, não se envolveram muito com esses segmentos novos. Algumas interpretações é de que estes segmentos são muito conservadores, individualistas, que acreditam que o êxito de sua ascensão se deveu ao seu esforço individual. É natural que ocorra isso quando se trata de uma ascensão sem politização do ponto de vista da interpretação, da narrativa necessária a ser feita pra demonstrar que as pessoas ascenderam por que tiveram um salário mínimo maior e que foi necessário tomar uma decisão para ter um salário mínimo maior. Teve emprego porque houve decisões favoráveis ao investimento e a políticas de renda que integrassem as pessoas de baixa renda.

Fórum – Qual tem sido o papel da rede/ internet no embate no político?
Pochmann – O papel da rede não é, está sendo. É um processo de construção e essa construção é permeada de idas e vindas. A sociedade está aprendendo a identificar o potencial da rede, que parece ser enorme, e a forma como isso pode ser usado por um lado e pelo outro. A nossa preocupação em relação às mídias digitais é em torno da regulação, a construção de um marco civil.

Fórum – Você acredita na aprovação do Marco Civil com a neutralidade de rede?
Pochmann – Se não for pra isso, eu não sei qual é o sentido de ter um Marco Civil.

Fórum – E, falando em redes, nós tivemos as manifestações de junho, que foram organizadas, majoritariamente, pela redes sociais. O que estas manifestações trouxeram?
Pochmann – As manifestações aqui são mais contemporâneas às questões ocidentais do ponto de vista da vida humana neste século e dizem respeito à revolução informacional e dos serviços. Nós estamos transitando de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços e, de maneira geral e heterogênea, as reclamações que levaram o povo às ruas eram questões relacionadas aos problemas de serviço: saúde, educação… A minha leitura é que se trata de serviços públicos: a saúde não funciona, a cidade não tem mobilidade. Se formos olhar do ponto de vista do consumidor, as maiores reclamações são direcionadas aos planos de saúde privada, para as empresas de transporte aéreo, para os bancos, então há um problema nos serviços para os quais não temos grandes respostas, a não ser a resposta derivada da forma de o Estado atuar que vem do século passado, que é trabalhar com caixinhas. O todo ainda é fatiado e as pessoas que foram para as ruas foram reclamar de tudo.  Perdemos a capacidade de olhar o indivíduo na sua totalidade e o Estado ainda não teve a capacidade de entender isso.

Fórum – Muitos setores da política disseram que os atos eram despolitizados, não tinham um foco. Você concorda com essa crítica?
Pochmann – É uma crítica adequada para os movimentos sociais do século XX, que eram constituídos a partir de organizações existentes que articulavam os atos políticos. Esses movimentos (que atuaram nos atos de junho) são característicos do século XXI. Essas pessoas foram às ruas por que não acreditam nas instituições existentes e essa é uma explicação para a qual não tenho resposta, mas acredito que na política, onde não existe o tal do vácuo, em algum momento alguma instituição vai ter que assumir essa contemporaneidade.

Fórum – Recentemente, tivemos a descoberta da máfia dos fiscais a partir de uma investigação da atual gestão municipal de São Paulo. Posteriormente, a cobertura jornalística acabou misturando as responsabilidades da administração Haddad e da gestão Serra-Kassab. Como encarou essa cobertura?
Pochmann – É uma cobertura coerente com a forma de imprensa que temos no Brasil. Incoerente se ela tivesse dado uma certa imparcialidade, o que não aconteceu.
Trabalhei na gestão da Marta (2001-2004), é impressionante a presença da chamada grande imprensa. Encerrado o governo da Marta, iniciou-se outro governo e praticamente desapareceu. Quando tinha um problema na Secretaria de Transporte, a chamada era “O governo da Marta está com um problema assim…”, depois que mudou o governo era “Secretaria X…”, nunca estava vinculado ao prefeito. Na verdade, quando você define a pauta, já é uma coisa muito ideológica. Então, vejo com coerência, incoerência é a nossa de imaginar que a imprensa faria uma cobertura imparcial.

Fórum – Há 20 anos Perseu Abramo escreveu o ensaio “Padrões de Manipulação da grande imprensa” e lá ele já identifica a imprensa enquanto uma força política. Acredita que hoje vivemos isso de maneira aprofundada?
Pochmann – Parece que os jornais assumiram aquilo que eles criticavam da imprensa comunista. Você tinha o Pravda, que sempre tinha uma crítica ao capitalismo, ou seja, era um jornal que escrevia para os seus militantes. Os jornais que temos hoje também escrevem para os seus militantes, escrevem o que eles querem ouvir, e por isso esses jornais estão com dificuldades para ampliar o seu número de leitores, é por isso que os jovens não interagem com esses jornais. Mas eles têm um público cativo, e para manter esse público cativo ficam alimentando uma visão que é, a meu ver, insustentável, isso não tem futuro. Estamos assistindo ao fim desse tipo de imprensa. Está em construção uma outra imprensa, uma outra cobertura, que é a coisa digital e isso também está em construção.

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